A produção das fábricas brasileiras de veículos segue gerando boas notícias de crescimento, com o melhor resultado mensal e trimestral desde 2014. Com a rara combinação da alta das vendas domésticas – os emplacamentos de leves e pesados produzidos no País avançaram 14,7% no primeiro trimestre, para 481,7 mil unidades – e expansão continuada das exportações (180,2 mil embarcados), a produção nacional soma nos três primeiros quase 700 mil automóveis, utilitários, caminhões e ônibus de janeiro a março, o que representa sustentado aumento de 14,6% sobre igual período de 2017.
Com 267,4 mil veículos produzidos só em março, houve também expressiva alta de 25,3% sobre fevereiro (quando a produção foi prejudicada pelo carnaval e menor número de dias trabalhados) e avanço de 13,5% na comparação com o mesmo mês do ano passado.
De fevereiro para março os estoques cresceram de 226,5 mil para 23,7 mil veículos parados nos pátios das montadoras e concessionárias à espera de compradores. Este volume corresponde a 34 dias de vendas seguindo o ritmo verificado no mês passado, um a mais do que em fevereiro, o que é pela indústria considerado um nível “razoável”.
Ociosidade e contrações
Antonio Megale, presidente da Anfavea, a associação dos fabricantes instalados no País, destacou que a produção do primeiro trimestre (700 mil) já está bastante próxima da média de 718 mil verificada nos três primeiros meses dos últimos 10 anos (desde 2008). Mas ainda está bastante abaixo do pico histórico de 862 mil atingido entre janeiro e março de 2013.
“A indústria ainda opera com ociosidade elevada”, observou Megale, apontando que na média as linhas de produção no País têm 40% de tempo ocioso, ou usam apenas 60% da capacidade total – estimada em 5 milhões de veículos/ano. O índice de capacidade ociosa é menor nas fábricas de automóveis, 37%, e muito maior nas plantas de caminhões e ônibus, 70%.
A Anfavea manteve inalterada a projeção de que a produção nacional de veículos deve somar 3 milhões de unidades em 2018, em avanço de 13,2% sobre 2017. Com esse desempenho, a ociosidade média das fábricas se manterá em 40%.
“Estamos indo na direção de ocupar a capacidade instalada, com geração de mais empregos. Muitas empresas estão tomando a decisão de abrir o segundo turno de trabalho e assim voltam a contratar”, disse o presidente da Anfavea.
O nível de emprego está voltando a crescer entre os fabricantes de veículos. Até o fim de março o setor empregava o total de 131.221 pessoas, número 3,4% superior ao registrado no mesmo mês do ano passado, com 4.335 funcionários a mais.
Vem caindo também o contingente de trabalhadores afastados, somando 1.535 ao fim de março. Eram 936 em Programa de Seguro Emprego, em jornada reduzida, mas o número com suspensão temporária de contrato de trabalho, o layoff, subiu de 498 para 599 de um mês para outro. “Esse aumento de cerca de 100 pessoas em layoff é pontual, deve ter ocorrido por causa de alguma paralisação para atualização de alguma fábrica”, explica Megale.
“Bom problema” com falta de peças
O aumento continuado da produção pode começar a formar gargalos no fornecimento de autopeças, o que Megale classifica como “um bom problema”. Ele reconhece que a indústria de componentes passou pela crise dos últimos anos com sofrimento maior do que o das montadoras, “até pelo tamanho mais reduzido de algumas e falta de capital de giro, que é caro no Brasil, por isso a recuperação no setor é mais lenta”.
“Mas as empresas estão fazendo esforço para atender o aumento da produção. O próprio Sindipeças (que reúne os fornecedores) avalia que existem problemas pontuais na cadeia de fornecimento, não é sistêmico”, avalia Megale. “Esse é portanto um bom problema para resolver.”
Fonte: Automotive Business